Entendendo a MP 1.303: Mudanças Regulatórias e Impactos
A MP 1.303/2025 estabelece uma taxação de 5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos de títulos que até então eram isentos, como as LCAs e CRAs. Esses instrumentos são fundamentais para o financiamento do setor agropecuário, respondendo por aproximadamente 43% dos recursos do crédito rural, segundo dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep).
Principais alterações tributárias
- Fim da isenção de Imposto de Renda para títulos emitidos a partir de 1º de janeiro de 2026
- Aplicação de alíquota de 5% sobre rendimentos de LCAs, CRAs, CDAs, CDCAs, CPRs e Fiagros
- Uniformização a 17,5% do imposto de fonte para aplicações financeiras de pessoas físicas
- Aumento para 20% das alíquotas do imposto de renda nos juros sobre capital próprio (JCP)
Estas mudanças representam uma ruptura com a política de incentivo ao financiamento privado do agronegócio, que vinha sendo construída há anos como alternativa à limitação dos recursos públicos para o crédito rural subsidiado.
Impactos Econômicos no Setor Agropecuário

A taxação dos títulos do agronegócio terá consequências diretas e indiretas para o setor produtivo. Especialistas e entidades do setor apontam para um cenário de encarecimento do crédito e possível redução da oferta de financiamento.
“Quando vem uma medida como essa, que taxa as LCAs, CPR, Fiagro, CRAs e CDCAs, está mostrando ao mercado que o governo quer avançar sobre setores onde tem recurso para cobrir o rombo fiscal e que o financiamento da agricultura vai ficar em segundo plano”, afirmou José Mário Schreiner, vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Consequências previstas para o agronegócio
Impactos diretos
- Redução da atratividade dos títulos para investidores
- Diminuição do volume de recursos captados
- Aumento do custo do financiamento para produtores
- Menor competitividade do setor agropecuário brasileiro
Impactos indiretos
- Possível aumento no preço dos alimentos
- Pressão inflacionária na economia
- Maior dependência de recursos públicos para financiamento
- Redução de investimentos em tecnologia e produtividade
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Críticas das Entidades do Agronegócio

A reação do setor produtivo à MP 1.303 foi imediata e contundente. Diversas entidades representativas do agronegócio manifestaram-se contra a medida, apontando para os riscos que ela representa para o financiamento da produção agrícola.
Posicionamento das principais entidades
Entidade | Posicionamento | Ações anunciadas |
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) | Crítica à medida por encarecer o crédito e prejudicar a competitividade | Mobilização junto ao Congresso Nacional |
Sistema FAEP (Federação da Agricultura do Paraná) | Repúdio à decisão e alerta sobre impactos para pequenos e médios produtores | Articulação para derrubada da MP no Congresso |
FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) | Promessa de “tentar de tudo” para impedir o avanço do texto | Possível devolução da MP ao Executivo |
Aprosoja-MT | Classificação da MP como “ataque direto ao sistema de financiamento” | Mobilização da base produtiva contra a medida |
“Vamos trabalhar arduamente para isso. Já estamos em contato com os deputados federais e senadores eleitos pelo Paraná, levando informações técnicas que mostram o impacto que essa taxação trará ao setor agropecuário e à economia do país. Todo o setor produtivo vai se levantar contra essa medida.”
A bancada ruralista, que conta com 353 membros no Congresso Nacional (303 deputados e 50 senadores), já sinalizou que vai trabalhar pela derrubada da MP, o que indica um cenário de forte embate entre o Executivo e o Legislativo sobre o tema.
As Políticas do Governo Bolsonaro para o Agronegócio
Principais medidas implementadas durante o governo Bolsonaro
- Desburocratização do licenciamento ambiental, facilitando a expansão da área produtiva
- Flexibilização das regras de fiscalização ambiental, reduzindo multas e embargos
- Ampliação do acesso ao crédito rural, com aumento dos recursos disponíveis
- Abertura de novos mercados internacionais para produtos agropecuários brasileiros
- Fortalecimento da segurança jurídica para produtores rurais
- Incentivo à regularização fundiária e titulação de propriedades
Resultados obtidos no período 2019-2022

Indicador | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | Variação |
Exportações do agronegócio (US$ bilhões) | 96,8 | 100,8 | 120,6 | 159,1 | +64,4% |
Produção de grãos (milhões de toneladas) | 242,1 | 257,0 | 254,1 | 271,5 | +12,1% |
PIB do agronegócio (R$ trilhões) | 1,55 | 2,06 | 2,26 | 2,42 | +56,1% |
Área plantada (milhões de hectares) | 63,2 | 65,4 | 68,9 | 73,7 | +16,6% |
Esses resultados foram alcançados com uma política de apoio ao setor produtivo e redução da intervenção estatal, criando um ambiente favorável aos investimentos e à expansão da produção agropecuária.
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Comparação: Políticas para o Agronegócio nos Governos Lula e Bolsonaro
Governo Lula (2023-atual)
- Aumento da tributação sobre instrumentos de financiamento do agro (MP 1.303)
- Maior rigor na fiscalização ambiental e combate ao desmatamento
- Foco em agricultura familiar e pequenos produtores
- Maior intervenção estatal no mercado agrícola
- Priorização de acordos comerciais multilaterais
- Ênfase em sustentabilidade ambiental e social
Governo Bolsonaro (2019-2022)
- Isenção tributária para instrumentos de financiamento do agro
- Flexibilização da legislação ambiental e redução de multas
- Apoio a médios e grandes produtores e ao agronegócio exportador
- Redução da intervenção estatal e desburocratização
- Foco em acordos bilaterais e abertura de novos mercados
- Ênfase em produtividade e competitividade internacional
Resultados comparativos

Os dados mostram que o governo Bolsonaro proporcionou um ambiente mais favorável ao crescimento do agronegócio, com recordes de produção e exportação. Já o atual governo tem adotado medidas que, segundo críticos do setor, podem comprometer a competitividade e o acesso ao crédito para os produtores rurais.
“No médio e longo prazo, a medida compromete a oferta interna de alimentos, agrava a insegurança alimentar, prejudica o controle da inflação e desestrutura cadeias logísticas e industriais que dependem do agro. Trata-se de um efeito dominó que começa com o produtor e termina no bolso da população.”
Dados Estatísticos: O Peso do Agronegócio na Economia Brasileira

O agronegócio é um dos principais motores da economia brasileira, respondendo por parcela significativa do PIB, das exportações e da geração de empregos no país. Compreender sua dimensão é fundamental para avaliar o impacto de políticas como a MP 1.303.
Participação do agronegócio na economia
Esses números evidenciam a importância estratégica do setor para a economia brasileira e o potencial impacto negativo que medidas como a MP 1.303 podem ter não apenas para o agronegócio, mas para toda a economia nacional.
Financiamento do setor agropecuário

Fontes de financiamento (2022)
- LCAs: 43% dos recursos do crédito rural
- Recursos equalizados (governo): 32%
- CRAs e outros títulos: 15%
- Recursos próprios e outras fontes: 10%
Volume de recursos (2022)
- Total do crédito rural: R$ 340,6 bilhões
- LCAs em circulação: R$ 146,5 bilhões
- CRAs em circulação: R$ 51,1 bilhões
- Financiamento privado total: R$ 1,29 trilhão
A MP 1.303, ao taxar os rendimentos de títulos como LCAs e CRAs, ameaça reduzir significativamente o volume de recursos disponíveis para o financiamento do setor agropecuário, justamente no momento em que os recursos públicos para equalização de juros estão cada vez mais limitados.
Cenários Futuros para o Agronegócio Brasileiro

A partir da análise dos impactos da MP 1.303 e da comparação entre as políticas dos governos Lula e Bolsonaro para o agronegócio, é possível projetar diferentes cenários para o futuro do setor no Brasil.
Possíveis cenários a partir da MP 1.303
Cenário otimista
- MP 1.303 é derrubada pelo Congresso Nacional
- Manutenção da isenção tributária para LCAs e CRAs
- Crescimento contínuo do financiamento privado ao agro
- Manutenção da competitividade internacional
- Continuidade dos investimentos em tecnologia e produtividade
Cenário pessimista
- MP 1.303 é aprovada e implementada integralmente
- Redução significativa do volume de LCAs e CRAs
- Encarecimento do crédito para produtores rurais
- Perda de competitividade internacional
- Aumento do preço dos alimentos e pressão inflacionária
O cenário mais provável, considerando a forte reação do setor produtivo e da bancada ruralista no Congresso, é de um embate significativo em torno da MP 1.303, com possibilidade de modificações substanciais no texto original ou mesmo sua rejeição completa.
Atenção produtores rurais: A MP 1.303 ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para se tornar lei definitiva. O prazo para análise pelos parlamentares é de 120 dias. Durante esse período, é fundamental acompanhar o debate e participar das mobilizações do setor para defender os interesses do agronegócio.
Participe da mobilização do setor agropecuário
Entre em contato com seu sindicato rural ou associação de produtores para saber como participar das ações de mobilização contra a taxação dos títulos do agronegócio.
Conclusão: O Futuro do Agronegócio em Jogo

A MP 1.303 representa uma inflexão significativa na política de financiamento do agronegócio brasileiro. Ao taxar instrumentos que eram isentos e que se tornaram fundamentais para o crédito rural, o governo atual sinaliza uma mudança de abordagem em relação ao setor, contrastando com as políticas implementadas durante o governo Bolsonaro.
A análise comparativa entre os dois governos evidencia visões distintas sobre o papel do agronegócio na economia brasileira. Enquanto o governo Bolsonaro adotou uma postura de apoio ao setor, com foco na desburocratização e na expansão da produção, o atual governo Lula tem implementado medidas que, segundo críticos, podem comprometer a competitividade e o acesso ao crédito para os produtores rurais.
O futuro do agronegócio brasileiro dependerá, em grande medida, do desfecho do embate em torno da MP 1.303 no Congresso Nacional. A forte reação do setor produtivo e da bancada ruralista indica que a medida enfrentará resistência significativa e poderá sofrer modificações substanciais ou mesmo ser rejeitada.
Independentemente do resultado, é fundamental que produtores rurais e demais agentes do agronegócio estejam atentos às mudanças regulatórias e busquem se adaptar ao novo cenário, garantindo a sustentabilidade econômica de suas atividades e a manutenção da competitividade do setor no mercado internacional.
“A conta não fecha e está cada vez mais difícil de imaginar que pode fechar em algum momento diante da postura e da imprevisão de um governo que não sabe mais o que fazer além de gastar sem critério, a busca por arrecadar desesperadamente e subestimar a inteligência de analistas e empreendedores.”
O agronegócio brasileiro, que alcançou patamares recordes de produção e exportação durante o governo Bolsonaro, enfrenta agora o desafio de manter sua trajetória de crescimento em um ambiente regulatório e tributário potencialmente menos favorável implementado pelo governo Lula. A capacidade de articulação política do setor e sua importância estratégica para a economia nacional serão determinantes para definir os rumos dessa história.
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